Prevenir e lutar: o impacto do Outubro Rosa na vida das mulheres através de histórias de superação
- Laíssa Esmeraldo
- 19 de out. de 2024
- 4 min de leitura
No mês de outubro de 2002, o obelisco do Ibirapuera foi iluminado por luzes cor de rosa, dando início à campanha do Outubro Rosa, que apesar de já existir nos Estados Unidos desde a década de 90, veio se consolidar no Brasil somente em 2008, quando várias cidades abraçaram a causa.
Outubro Rosa, um movimento internacional, diz respeito à conscientização em torno da importância da prevenção do câncer de mama. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) prevê para 2024 o surgimento de, ao menos, 66 casos de câncer de mama para cada 100 mil mulheres, representando 74 mil casos desse tipo de câncer no país, sendo o tipo que mais acomete as mulheres no Brasil.
Apesar desses números expressivos da incidência da doença, existem histórias de força e superação, pois é sabido que o diagnóstico precoce e a introdução ao tratamento adequado aumentam de modo considerável as chances de cura.
O mastologista do Instituto do Câncer do Ceará, Dr. Ércio Gomes, aponta que um grande desafio é obter o diagnóstico precoce, o que, paradoxalmente, é atrapalhado pelo medo do próprio diagnóstico e pelos estigmas da doença, como ser considerada “incurável” ou, também, alguns de seus efeitos colaterais, como a queda de cabelo e a perda da mama. No entanto, o diagnóstico precoce é essencial para aumentar as chances de cura.
Foi exatamente esse tipo de atitude que ajudou a gerente administrativa, Celina Maia, então com 46 anos, a superar a doença. Acompanhada regularmente em razão de seu histórico familiar de câncer, em um exame de rotina, detectou-se um carcinoma ductal in situ (um tipo de pré-câncer) na mama esquerda. Logo foi marcada a cirurgia e, após o procedimento cirúrgico, ela iniciou o tratamento: 4 ciclos de quimioterapia e 20 sessões de radioterapia.
A história da aposentada Marília Gondim também reflete a importância tanto de receber o diagnóstico precoce quanto estar atenta à própria saúde. No seu caso, foi a sua filha quem marcou a consulta e a levou para os exames. Nessa ocasião, foi descoberto o câncer nas mamas. Precisou realizar a mastectomia bilateral, e em decorrência desse procedimento, teve infecção precisando de duas cirurgias a mais. Após estabilizada, iniciou o tratamento de 4 ciclos de quimioterapia.
Diferentemente de Celina e Marília, a jornada da aposentada Ana Cristina Almeida foi marcada pela demora para diagnóstico do câncer de mama. Apesar de ter buscado ajuda médica e, mesmo com a realização de exames (inconclusivos), seu diagnóstico só veio a ser confirmado após 5 anos. Fez a cirurgia e depois começou o tratamento de quimioterapia e de radioterapia.
Quando o câncer é diagnosticado precocemente, as chances de recuperação aumentam significativamente. O diagnóstico é crucial para planejar o tratamento mais adequado para cada caso. Dr. Ércio destaca que, há 20 anos, todos os tipos de tumores recebiam tratamentos semelhantes. Hoje, porém, a medicina avançou para uma abordagem mais individualizada, que pode incluir quimioterapia, radioterapia, imunoterapia, hormonioterapia, entre outras mais.
O percurso que vem depois do diagnóstico é longo e complexo. O procedimento para tratar o câncer de mama é árduo e envolve efeitos colaterais desgastantes e que afetam tanto o físico (queda de cabelo, mastectomia e enjoos, por exemplo) quanto o emocional (ansiedade, medo, cansaço e outros).
Celina, Marília e Ana Cristina, apesar de terem tido vivências individuais e únicas, um sentimento foi comum entre as três: a angústia da incerteza. Cada uma, em algum momento, se viu nesse cenário.
O diagnóstico de câncer de mama foi assustador para Celina. A notícia veio com várias suposições que, normalmente, começavam por “e se…”. Ela relembra o quão difícil foi encarar o medo do tratamento e de seus efeitos colaterais, principalmente da queda de cabelo. As sessões de quimioterapia vinham com enjoos e dores no corpo. Mas, se recorda de que a parte mais penosa foi a perda dos cabelos; “Foi estranho ficar careca tão rapidamente e ver os fios caindo em tufos diariamente”, confessa Celina.
Ana Cristina conta que o seu maior desgaste foi, de longe, o emocional, mais do que o físico, tanto o é que, até hoje, convive com esses desafios. O medo do tratamento não dar certo e o de não resistir à batalha era uma angústia constante.
Já Marília teve de enfrentar a doença em meio à pandemia. “Foi muito difícil”, relembra, principalmente por ter de ver sua filha cuidando dela e da casa, sozinha, sendo a sua principal fonte de apoio. Com a químio, Marília relata que sentiu de maneira intensa os efeitos físicos, mas confessa que o desgaste emocional foi muito maior devido ao medo da doença progredir, “o que tornou a luta ainda mais árdua”
Celina, Ana Cristina e Marília, cada uma, no seu tempo, se viram diante da necessidade de enfrentar o medo do desconhecido da doença e encará-lo. As três relatam que se apoiaram na fé e na esperança da cura, além do apoio no conforto de suas famílias.
Dr. Ércio alerta sobre os fatores de risco afirmando logo que 15% dos casos são genéticos, mas que, por exemplo, a obesidade e o consumo de álcool podem contribuir para que a doença apareça. Hoje, as três mudaram seus estilos de vida com alimentação balanceada e rotina de exercícios físicos, e evitam bebidas alcoólicas e cigarros também. “Nunca mais fui a mesma”, confessa Celina.
Neste mês tão significativo, as histórias de Celina, Ana Cristina e Marília, são três de milhares de outras que mostram a importância da prevenção, da consciência e de um diagnóstico. Dr. Ércio relembra a importância da prevenção primária, com a manutenção de um estilo de vida saudável e da secundária, com a realização de exames de rotina a partir dos 40 anos, ou antes.
Sobre o que as manteve firmes nessa luta, Marília foi direta e disse que a fé foi fundamental. Ana Cristina tentou se manter sempre confiante e Celina falava para si “nunca pense que é o fim”. Que essas histórias - e outras mais - não sejam lembradas apenas em outubro. Que a atenção, o cuidado e prevenção ao câncer de mama não se percam com o fim do mês rosa.
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