Como seria?
- Laíssa Esmeraldo
- 2 de nov. de 2024
- 3 min de leitura
Hoje, eu me peguei pensando na saudade. Ela que surge, cresce e dificilmente morre. É a ausência de uma presença. É passado, presente e futuro. É o eco de momentos vividos. É o que poderia ter sido, mas que não pode mais, nunca. E, hoje, eu me vi refletindo: “como seria?”
Como seria se meu amado Vovô Boileau, a primeira pessoa que perdi, ainda estivesse entre nós? Será que ainda teríamos nossos almoços de família aos domingos? Será que ainda moraria naquela casa, no bairro de Fátima, ou teria se rendido aos apartamentos pequenos? Como seria o vovô com WhatsApp? Será que mandaria mensagens de áudio toda manhã no grupo desejando um ótimo dia? Será que estaria indignado com a política, ou desgostoso com o rebaixamento do Ceará? Vovô, só queria mais momentos com você.
Como seria se Tia Ofélia (ou Tia Ói, para mim) estivesse presente? Ela teria visto sua filha se tornar médica. Teria conhecido seu genro e iria vê-los se casando. Como ela estaria? E fisicamente, teria rugas? Cabelos curtinhos, brancos? Quantas rolhas de vinho não teriam sido colecionadas? Quantos conselhos e sermões não teriam sido dados? Quantas reuniões familiares não teriam sido realizadas, e quantos abraços de mãe, carinhosos, ela não teria distribuído? Ah, minha tia, daria tudo para te (re)conhecer hoje.
Como seria se meu outro Vovô Abner não tivesse partido de maneira tão brusca? Sem chances para despedidas… Meu Vovô morava no interior, e ficava horas com suas palavras cruzadas sentado em uma cadeira de balanço, na calçada. Sempre que chegávamos no interior, éramos recebidos pelo Vovô que, escorado no portão de sua casa, acenava, com um sorriso de quem prometia um abraço caloroso. "Benção, Vô" "Deus te abençoe, minha filha".
Como seria se minha outra tia, a Tia Maia, não tivesse ido tão cedo, deixando a família sem a sua risada única e energia particular? E o orgulho de ver sua filha se formando? E o orgulho de ver sua outra filha colecionando conquistas fruto de seu trabalho? E tudo mais que ainda está por vir e que a família não poderá dividir contigo? Como fica? Tia Maia, a sua ausência dói, mas as boas lembranças consolam.
Como seria se minha Vovó Belinha não tivesse se cansado e deixado o mundo aos 93 anos, 100% lúcida? Pena que seu corpo não acompanhou o vigor de sua mente. Vovó mandava áudios no WhatsApp e sabia atender às videochamadas. Como seria se Vovó tivesse feito mais, como ter andado de bicicleta (seu maior sonho), comido coisas diferentes (vovó provou sushi e gostou), rezado mais (ela rezava 24h por dia). Vovó queria ter vivido e aproveitado mais a vida. Vovó, como é estranho chegar na (para sempre) "Casa da Vó Belinha" e não te encontrar perambulando pela cozinha para nos servir comida.
E eu? Eu só queria mais tempo com cada um deles.
O tempo, bom, ele segue seu rumo. Não tem pausa, não tem volta (e não sei se é bom ou ruim). A saudade ocupa espaços, se encaixando nas brechas das lembranças. Eu me pergunto "como seria?", sabendo que nunca saberei realmente como seria. A saudade é uma forma de me manter ligado a eles. São cheiros que surgem inusitadamente, músicas que tocam sem aviso, momentos que são lembrados ao folhear um álbum de fotos.
A saudade não morre. Eu a vejo como uma singela forma de manter aqueles que já partiram, vivos. Vivos nos detalhes do cotidiano, desejando, sempre, que estivessem aqui.
Eu daria tudo também pra saber, “Como seria?” se todos nossos entes queridos, mencionados nesse textinho, estivessem aqui conosco. Como seria?? Texto lindo, sensível🥹
Parabéns, filhota! Sucesso 🙏🏼🫶🏻